Sunday, November 25, 2007

BA


Ai moras no Bairro, que máximo! Dizem-me! Quando há muiiiiitoooos anos dízia que morava no Bairro Alto as pessoas normalmente olhavam-me de soslaio e ficavam assim com o ar de hoje em dia quando alguém diz que mora na Zona J de Chelas! Mas agora não! É chique dizer que se mora no bairro!

Puxa, são quase 3 da manhã de Domingo, e estou eu a escutar batuque vindo do Largo do Camões! Não consigo dormir! Está um grupo de bêbados a berrar e a cantar, ou pelo menos a tentar. Acham o máximo viver no Bairro? Venham para aqui então!

Conheci no outro dia, um namorado de uma amiga minha que é de Barcelona. Diz ele, que já desistiu de dizer que é de lá. Toda a gente vem sempre com a mesma conversa! Uau tu és de Barcelona, que máximo!

Eu percebo. Não devía estar a queixar-me, afinal moro no Bairro! Uau!

Então e quando no Bairro havia putas? E proxenetas? Uau!

Sinceramente?!? Que saudades desse tempo. Do tempo em que havia tascas com pipas de vinho e carapaus fritos servidos em pratos de esmalte. E velhos a jogar dominó. E o som das peças deste jogo a ouvirem-se ao longe até à minha janela. E dos pregões das varinas, ai a minha pescadinha é tão fresca que só falta é falar! E do pregão da mulher que vendia figos: quem quer figos, quem quer almoçar. E do vendedor de petróleo para os aquecedores, que vinha vendê-lo às escadas com uma espécie de bilha com medidas várias. E as vizinhas que gritavam à janela, ó meninas, olhem a roupa! que está a chover! E a vizinha da frente que estendia um cabaz com um cordel, até lá baixo à mercearia para lhe porem um molho de nabos, e ficava para o rol da conta do mês.

Puxa, eu não sou assim tão antiga! Mas ainda sou desse Bairro. Do verdadeiro Bairro Alto! Parem lá com o batuque. Agradecida!

3 comments:

Miguel Costa said...

É condescendente o Luiz Vaz de Camões com essa rapaziada artista da noite e do batuque.
Se lhes caísse em cima uma página dos Lusíadas, logo enrolariam nela qualquer coisa!

3Picuinhas said...

...e dos Armazéns do Chiado onde escolhiamos um brinquedo (só um que o dinheiro não dava para mais) no Natal, e as sandes de frango e arroz doce da Tia Matilde, e a corrida desenfreada Rua Garrett acima "...a ver se hoje não chego atrasada às aulas"...

Suzana com z said...

e do lugar (merceearia) da esquina que vendia coelhos e galinhas vivos ali na rua diário de notícias e que hoje está transformado na pseudo-loja que vende pseudo-produtos-biológicos e plantas de cannabis. e que tinha sempre um banquinho à espera das clientes que íam para lá para por a escrita em dia, vulgo quadrilheirice de bairro. e dos miúdos a andarem no largo do camões em carrinhos de rolamentos. enfim!