Friday, December 21, 2007

A vida é breve


Está a chegar aquela altura do ano em que e como de costume, faço uma revisão do que se passou neste último ano que está a acabar.

Passam por mim as recordações dos momentos que vivi, uns melhores do que os outros. O novo emprego. Recordo as pessoas que me acompanham, a família, os amigos que estão por perto e dos que estão longe.

A vida é breve! Digo muitas vezes. A vida é breve!

PS – e Feliz Natal e abusem de tudo!

Sunday, December 9, 2007

Capítulo II – O grande salto


Sente que deixou a vida para trás e que vai saltar para o desconhecido. Outras e outros já o fizeram antes de si e deram-se quase todos bem.

Pensa na casa dos pais de Nilza, a vizinha que cresceu consigo como se fosse quase irmã, que está meio acabada e linda de fazer inveja. Não se fala de outra coisa em Santa Teresa. Aliás, não se fala de mais nada a não ser de Nilza e das remessas constantes de dinheiro que a menina envia lá de Portugal.

Pouco me importa o que se diz de Nilza, eu também sou filha de Deus! Meu Pai da Vida me dá uma oportunidade! Aqui não se faz nada e o salário mal chega ao fim do mês. Tem dias que me dá o desespero. Senhor! Me ajuda à dar coragem para eu conseguir ir embora daqui.

Madalena, viveu toda a vida em Santa Teresa. Tirando o período em que os pais a enviaram, com grande sacrifício pessoal, para Goiânia para ela se qualificar para Cabeleireira e com Diploma de Esteticista. Goiânia foi assim um grande passo na vida de Madalena. Está bem que ficou três anos em casa da tia, mas Goiânia a marcou para sempre. Uma cidade grande, com prédios enormes e muito trânsito muita confusão. E pensar que a sua terra fica apenas a 600 km, e é tão pequena. Não tem nada.

Lembra-se das correrias da infância lá no sítio do avô, com os irmãos e irmãs. E os joelhos a ficarem esfolados e meio esverdeados da grana. Os ralhetes da mãe. Eram pessoas remediadas. E agora?

Suspira fundo e recosta-se mais um pouco na cadeira do avião. Estica as pernas e roda os pés uma vez para a esquerda, outra para a direita. Ainda faltam mais cinco horas de vôo. Portugal! Que estranho. Pensar que o avô António tinha vindo de lá num barco, recordava-se de ouvir contar. E agora justo ela atravessa o Atlântico de avião para o outro lado. Como será Lisboa? Deixou tudo para trás. A filha e o filho ficaram com os avós. Se tiver sorte, mais tarde eles se juntam a ela. Foi assim com a Nilza, e não será diferente com Madalena. Se Deus quizer!

Acorda com a voz que anuncia: “Senhores passageiros, daqui fala o Comandante Pedro Esteves. Estamos a iniciar a descida para a cidade de Lisboa. São agora 5 horas da manhã, hora local e a temperatura é de 26 graus. O céu encontra-se limpo. Esperamos que tenham efectuado uma agradável viagem na companhia da TAP Air Portugal”.

Lisboa! Como vai ser?

Tuesday, December 4, 2007

Capitulo I


Acordou, num Domingo qualquer, como de costume com o barulho ensurdecedor vindo do quarto dos rapazes. Olhou para o lado e o marido dormia com um sono profundo, como se nada se passasse. “É sempre a mesma coisa”, pensou ela e levantou-se com pouca vontade e muita falta de paciência.

Quando ía a caminho da “crise”, ao passar no corredor, olhou-se para o espelho. Aquele espelho por cima do móvel do corredor. Aquele espelho cruel que a faz lembrar sempre, nas horas mais erradas, que estará talvez na altura de deixar de fumar um maço por dia.

A pele da cara, sem brilho, sem cor, ou pelo menos sem aquela cor, as olheiras, sempre ali a marcar presença e a lembrar-lhe coisas que ela quer esquecer, e depois aquelas rugas nos olhos, no canto da boca. “Eu já fui uma gaja gira”. “Já fui...”. Ouve o barulho típico do Pedro aos pulos na cama e isso leva-a à realidade imediata.

“Onde errei eu?, “Como podem eles ser assim?”, de repente lembrou-se que não tinha tomado a pílula do dia anterior, e toca a voltar a trás, assim meio a correr e a tentar lembrar-se onde tinha posto a mala. “Se ao menos fosse um pouco mais arrumada, isso talvez ajudasse” – pensou ela, e ao mesmo tempo esbarrou com o marido que neste preciso momento tinha acordado e meio a dormir vinha também ver o que se passava com os filhos.

“Oh Laura – assim se chamava a Mulher – mas que vem a ser esta barulheira no quarto dos teus filhos?”.

Nesta altura, a cara da Laura, ficou de um vermelho intenso de raiva, de frustração de cansaço, de 11 anos de casamento sem novidades, sem surpresas. Olhou João nos olhos e quase disse “Meu grande egoísta, estavas para ali a ressonar e tens a lata de me dizer os teus filhos? “Até parece que eles vieram de geração espontânea oh pató!” . Pensou mas disse apenas – Olha vai lá tu que eu não consigo encontrar as pílulas, e não queremos mais filhotes, pois não?”.

Guarda sempre as palavras, os sentimentos. Guarda sempre tudo. Tem já uma colecção de palavras por dizer, de lágrimas adiadas, de raivas contidas das suas frustrações mais profundas. Sentimentos profundos que não partilha com ninguém, e muito menos com o João. No fundo ela nem tem tempo para isso.

Finalmente a mala aparece no meio do rebuliço das collants, da saia e do resto da roupa que tem vindo a acumular desde a semana anterior. A mala por dentro não está melhor. Depois de ter tirado, chaves, chucha velha do Eduardo, lenços de assoar, maço de tabaco, e mais tralha, encontra finalmente a caixa das pílulas.

Lembra-se como se fosse hoje, quando ligou à nora a chorar, quando descobriu que estava grávida pela terceira vez.

Agora, aos gritos dos filhos juntava-se o grito lancinante do pai a tentar de alguma forma impor um respeito que nunca soube exercer. Laura pensou para si mesma, que para Domingo já chegava de tragédia. Encheu peito de ar e coleccionou mais umas palavras por dizer.



Este texto foi escrito já há algum tempo, e sería ou será o I Capítulo de um possível livro. Gostam?