Sunday, June 3, 2007

Nada


Fui arrastada para dentro, literalmente. Em geral só gosto de entrar, quando estão vazias de pessoas. Ouvir o ecoar dos passos. Sentir o silêncio. Os cheiros.

Não recebi educação religiosa. Não adquiri hábitos de celebração. Não me sinto confortável com os rituais.

Mas nesse dia fui arrastada. Fui arrastada para uma celebração invulgar, muito próxima das pessoas. Daquelas missas que tocam, mesmo as pessoas mais cépticas como eu. Sei que dei por mim numa convulsão de lágrimas e soluços.

As pessoas à minha volta, empunhavam fotografias dos seus familiares (doentes a maioria), e exibiam-nas perante o cálice e a hóstia, erguida pelo Padre. Este passava por entre as pessoas e repousava um ar sereno, o ar sereno de quem tudo viu e ouviu. Havia lágrimas nos rostos, soluços, olhares de esperança.

Eu que estava ali por arrastão, e embrenhada no meu dilúvio emocional, a sentir-me muito pequena, perante tamanha avalanche de emoções. Os meus problemas não são nada, pensei. Nada. E chorei. E as lágrimas caíam porque me sentia privilegiada, envergonhada.

Eu tinha entrado de arrastão.

1 comment:

3Picuinhas said...

É pena que a vida se faça de arrastões. Que nos empurram para a frente, quando a felicidade nos parece eterna, e nos fazem tropeçar quando o desgosto, o desencanto nos sobe pelos dedos e nos entra no coração. E há dias assim, em que a alma nos foge pelas lágrimas abaixo...