Saturday, May 19, 2007

F.icar I.nstalado em A.luguer T.emporário


Eu sou proprietária (como isto me soa bem) de um Fiat Panda. Ainda que não sendo materialista, nutro um certo apego a este meu bem terreno. Mas, apesar de todo este grande sentimento trato-o com um certo desamor. Ou seja, nunca ninguém me viu de spray brilho super-plus de volta dele, dando lustre ao capot. Para além disso, e por força das circunstâncias, o meu Panda passa largas temporadas sem cheirar o alcatrão quente. Mas vamos ao que interessa:

Toca a campaínha lá do prédio. É ai que vive a dona do fiat panda verde que está estacionado ali na rua bláblá? Que sim senhor, então suba e se faz favor de dizer. Ah que é só para dizer que, hrum hrum (som do aclarar da voz) um daqueles sem-abrigo, portanto um moedinhas, dorme já há alguns diazitos no seu carro....

Sabem aquele som do trovão, o relinchar do cavalo quando empina , a lava a saír do Etna, o touro a passar com a patinha “ao de leve” pela terra? Tudo isso me passou na cabeça à velocidade de eu sair porta fora pelas escadas a baixo, ai meu santinho, ai o meu pandinha e f***-**!

O cenário era, como dizer, um espectáculo para os sentidos. Eu não quero impressionar as almas mais sensíveis, mas aquilo era uma profusão de cheiros inebriantes, que íam desde o do tabaco entranhado, ao cheiro do sarro da roupa que não vê água e sabão, passando pelo inarrável cheiro a chulé . Para completar havia ainda o cambiante colorido das belas escarretas escarrapachadas nas costas dos bancos da frente. Um verdadeiro mimo.

Como não fora suficiente, o meu amigo, tinha lá deixado um saquito com os seus pertences pessoais e uma almofada vermelha, já que o banco de trás do Panda (ouvi dizer) não é conhecido pelo seu conforto. Então caramba, nós não andamos de mala de viagem a arrastar por aí nas cidades ou andamos? Deixamos tudo no hotel, certo?

Lavei o carro, por dentro (obrigada C.) e por fora, depois de ter passado nas lavagens manuais do El Corte Inglés e de me terem pedido 160 euros, para a limpeza especial. Desconfio que o Panda deve valer para aí uns 40, até porque o chulé do meu amigo é do género queijo de azeitão, e sempre desvaloriza a mercadoria.

O moço brasileiro que me atendeu, e porque não imagina uma sócia do IEFP a usar tais instalações magníficas, viu a oportunidade para puxar a brasa à sua sardinha. Nossa, como isso fede, né? Ora o feder (eu disse feder) não fica bem a ninguém. E isto de estar desempregada obriga-nos a um cuidado exagerado com a higiene pessoal . No meio deste cenário, eu carregava freneticamente com o meu indicador no spray anti-cheiro que trouxera comigo escada a baixo, para dentro do Panda.

Acho que vou colocar almofada rendada, pout-pourri e um cartaz a anunciar o preço da diária.

Curiosamente, ou talvez não, a única coisa que desapareceu foi, uma bolsa em pano que protegia uns óculos escuros, que eu deixo sempre lá dentro do carro. Os óculos até que não são maus de todo. Além disso a bolsa, servirá para guardar ... Olha agora não me ocorre. O que sugerem vocês?

4 comments:

paulo said...

Tu tb cheiras mal dos pés...calha bem! pelo menos, este fim de semana - quando saíamos do Júlio do Caracóis, ali prós lados de Chelas, sobrevoados por helicópteros da GNR, ainda com restos de morcela e farinheira nos dentes, misturados com molho de caracol- vinha um cheiro das tuas socas a Blue Cheese(tipo limiano)...que fazia tossir qualquer moedinhas! ó pá, o direito à habitação, é um bem fundamental!! ..devias instalar um parquimetro na porta do teu panda.

Anonymous said...

ó meu grande ordinário, que me estragas a reputação. Olha que eu lavei o meu pézito muito bem. Sim porque isto de ir ao Júlio, uma pessoa tem que se aperaltar, não vá aparecer o Rei dos Calés...

3Picuinhas said...

... (cof cof) desculpem interromper a vossa discussão mas parece-me que o tema deveria ser: que uso irá dar o mocinho ao saquinho (até rima e tudo, qu'lindo!) dos óculos. Ora, serve para guardar pensos higiéniscos (sim, pode ser uma sem -abrigo!!!), para guardar pedras de chamon (é assim que se escreve?), para trazer à mão uma ponti-mola (a mesma dúvida), ou então tem um fetiche qq contigo e levou o saquinho tipo "...para me lebrar de ti quando me puseres a andar do teu 4 rodas"

3Picuinhas said...

...um pouco à semelhança das cooperativas no pós-25 de Abril "o carro a quem dele precisa!".