Este blogue não tem nada de original. Estou já a avisar! É só mesmo para deitar cá para fora, aquilo que não se deve guardar para dentro! Faz sentido? Claro que sim! Note-se que o deitar cá para fora, pode ser de tudo um pouco...
Tuesday, December 4, 2007
Capitulo I
Acordou, num Domingo qualquer, como de costume com o barulho ensurdecedor vindo do quarto dos rapazes. Olhou para o lado e o marido dormia com um sono profundo, como se nada se passasse. “É sempre a mesma coisa”, pensou ela e levantou-se com pouca vontade e muita falta de paciência.
Quando ía a caminho da “crise”, ao passar no corredor, olhou-se para o espelho. Aquele espelho por cima do móvel do corredor. Aquele espelho cruel que a faz lembrar sempre, nas horas mais erradas, que estará talvez na altura de deixar de fumar um maço por dia.
A pele da cara, sem brilho, sem cor, ou pelo menos sem aquela cor, as olheiras, sempre ali a marcar presença e a lembrar-lhe coisas que ela quer esquecer, e depois aquelas rugas nos olhos, no canto da boca. “Eu já fui uma gaja gira”. “Já fui...”. Ouve o barulho típico do Pedro aos pulos na cama e isso leva-a à realidade imediata.
“Onde errei eu?, “Como podem eles ser assim?”, de repente lembrou-se que não tinha tomado a pílula do dia anterior, e toca a voltar a trás, assim meio a correr e a tentar lembrar-se onde tinha posto a mala. “Se ao menos fosse um pouco mais arrumada, isso talvez ajudasse” – pensou ela, e ao mesmo tempo esbarrou com o marido que neste preciso momento tinha acordado e meio a dormir vinha também ver o que se passava com os filhos.
“Oh Laura – assim se chamava a Mulher – mas que vem a ser esta barulheira no quarto dos teus filhos?”.
Nesta altura, a cara da Laura, ficou de um vermelho intenso de raiva, de frustração de cansaço, de 11 anos de casamento sem novidades, sem surpresas. Olhou João nos olhos e quase disse “Meu grande egoísta, estavas para ali a ressonar e tens a lata de me dizer os teus filhos? “Até parece que eles vieram de geração espontânea oh pató!” . Pensou mas disse apenas – Olha vai lá tu que eu não consigo encontrar as pílulas, e não queremos mais filhotes, pois não?”.
Guarda sempre as palavras, os sentimentos. Guarda sempre tudo. Tem já uma colecção de palavras por dizer, de lágrimas adiadas, de raivas contidas das suas frustrações mais profundas. Sentimentos profundos que não partilha com ninguém, e muito menos com o João. No fundo ela nem tem tempo para isso.
Finalmente a mala aparece no meio do rebuliço das collants, da saia e do resto da roupa que tem vindo a acumular desde a semana anterior. A mala por dentro não está melhor. Depois de ter tirado, chaves, chucha velha do Eduardo, lenços de assoar, maço de tabaco, e mais tralha, encontra finalmente a caixa das pílulas.
Lembra-se como se fosse hoje, quando ligou à nora a chorar, quando descobriu que estava grávida pela terceira vez.
Agora, aos gritos dos filhos juntava-se o grito lancinante do pai a tentar de alguma forma impor um respeito que nunca soube exercer. Laura pensou para si mesma, que para Domingo já chegava de tragédia. Encheu peito de ar e coleccionou mais umas palavras por dizer.
Este texto foi escrito já há algum tempo, e sería ou será o I Capítulo de um possível livro. Gostam?
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2 comments:
Continua!
Adoro a Laura! Que por acaso podia ser a I...,a M...a S...
Fico `a espera do II.
Gosto. Mas deixa-me que te diga que a tua base de inspiração, a Laura com C, vai-te odiar para toda a eternidade.
Bjs ó nobel da literatura
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